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domingo, 29 de dezembro de 2013

Pequenas Histórias


Pequenas Histórias (61) - Ano 1943


A Estreia de Badanha


Ele já foi o personagem do espaço "Pequenas Histórias" número 33. Um fenômeno que sobrepujou sua passagem pelo Imortal, porque o seu nome ganhou uma dimensão continental. Bom jogador sem ser um craque, sem ter uma trajetória vitoriosa, quando envergou a camisa tricolor ou as do Porto Alegre, São José e Renner, Badanha ganhou mais fama do que muito craque por aí.

Não foi fácil conseguir uma foto dele, aliás, até essa única, por azar, mostra Badanha (o quarto em pé) com sobrancelhas espessas e um cavanhaque que nada mais são do que consequências de duas linhas escritas à caneta tinteiro que atingem também a face de Heitor, logo ao seu lado. Um rosto enigmático.

Em 24 de Fevereiro de 1943, o mundo ainda comemorava a primeira derrota nazista na Batalha de Stalingrado na Rússia; Von Rommel, ferido, via a Afrika Korps à caminho da rendição na Líbia, o Brasil envolvido na guerra contra o Eixo; nos cinemas, o filme de Michael Curtiz, Casablanca e às 23:50 h daquele dia, a música via nascer em Liverpool, o beatle George Harrison, ainda que todas as biografias citem como 25 o dia de seu nascimento. Pois bem, em Porto Alegre naquela quarta-feira à noite na Baixada, o Grêmio iniciava sua temporada fazendo uma partida pelo torneio triangular que tinha Cruzeiro e Internacional. Contava com várias novidades no time; o retorno do craque Luiz Luz, a inclusão do arqueiro Rubens e a estreia do bom center-half Badanha, trazido do São José. Eram anos difíceis, anos de hegemonia vermelha.

O Cruzeiro vinha de uma vitória sobre o Rolo Compressor; esperava-se um confronto equilibrado. O treinador gremista Osvaldo Rolla (Foguinho) escalou Rubens; Luiz Luz e Valter; Vinícius, Badanha e Heitor; Medina, Idelmar, Nicheli, Antoninho e Edgar.

Aos 12 minutos, após um escanteio cobrado por Medina, Idelmar encheu o pé e abriu o marcador. Aos 20 minutos, o ponta-esquerda estrelado Ilmo surpreende o goal-keeper Rubens e empata a partida, marcando um gol olímpico. Passados 8 minutos, Nicheli apanhou um rebote na área e empurrou mansamente para as redes de Marne, o bom goleiro alvi-azul; 2 a 1 para o Imortal. O primeiro tempo terminaria empatado, pois  Wilson marcou, depois de tabelamento com Louzada.

A etapa final se caracterizou pelo predomínio do Cruzeiro diante do cansaço da equipe locatária; o Tricolor perdeu principalmente para o melhor preparo físico dos cruzeiristas. Aos 30 minutos, Ilmo marcaria o gol do desempate. 3 a 2. Ficou assim.

Badanha foi elogiado pelos "recursos técnicos" e acertos de passes, porém demonstrou pouco condicionamento físico que lhe prejudicou, especialmente na etapa final.

Foi assim a estreia de Badanha, o jogador que ficou mais marcado pelo carinho e zelo de sua mãe, cuja ação originou a expressão "vá se queixar para a mãe do Badanha", após (ela) publicamente sair em defesa do filho diante das críticas ferrenhas de um jornalista.

Um agradecimento muito especial a Morgana Schuh que nos forneceu a foto raríssima deste Grêmio do primeiro semestre de 1943. Obrigado, Morgana.


6 comentários:

  1. Bruxo, bacana a história sobre o BADANHA. Pelos meus dados foram 18 partidas pelo Tricolor.

    Mais algumas considerações a respeito de BADANHA:
    - em 29.07.1941, o Jornal IMPARCIAL, da cidade do Rio de Janeiro, dava como certa a ida do atleta para o AMÉRICA, que ofereceu 20:000$000 para o São José;
    - em janeiro de 1942, novamente a notícia dava como certa a contratação de BADANHA pelo América;
    - em outubro de 1942, o Grêmio entrou na briga e contratatou BADANHA, para o ano de 1943. Mesmo assim, os times do Rio de Janeiro tentaram levá-lo para jogar na Cidade Maravilhosa; e
    - Badanha fez parte das Seleções do RS que enfrentaram outras seleções estaduais pelos campeonatos de então.

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    1. Valeu,Alvirubro!
      Um belo resgate deste personagem da história do futebol gaúcho que conseguiu ultrapassar os limites do campo.

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  2. O CRUZEIRO TINHA UM ÓTIMO TIME DE FUTEBOL, COMEÇANDO PELO GOLEIRO MARNE DEMENEGHI. HAVIA AINDA BAZÍLIO, ORDOVÁS, INGO, LOUZADA, ILMO E OUTROS.

    24.02.1943 - Grêmio 2x3 EC Cruzeiro
    Local - Baixada (Moinhos de Vento), Porto Alegre-RS
    Árbitro - Guilherme Schroeder
    Gols - Idelmar 12', Ilmo 20', Nichelli 28', Wilson 38' do 1º tempo; Ilmo 30' do 2º tempo
    Grêmio - Rúbens; Luiz Luz e Walter; Vinícius, Badanha e Heitor; Medina, Idelmar, Nichelli, Antoninho e Edgar.
    Técnico - Oswaldo Azzarini Rolla (Foguinho)
    Cruzeiro - Marne; Gaúcho e Ingo; Zica, Ramón Jesus e Clóvis; Louzada, Wilson, Basílio (Ordovás), Capaverde (Humberto) e Ilmo.

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  3. Morgana Schuh, DO MEMORIAL DO GRÊMIO, diga-se de passagem...

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    1. Charles!
      Talvez eu tenha dado ênfase ao nome da Morgana, porque foi a primeira vez que eu obtive um retorno satisfatório deste setor.
      Havia tentado dados sobre um episódio com o nosso presidente Dourado e, olha, foi difícil.

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  4. Verdade, Charles!
    Ela mesma que se desdobrou em gentileza e competência. Morgana do Memorial do Grêmio.

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