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quarta-feira, 4 de junho de 2014

Vocacção!?

Ler os número do bruxo me levou a repensar conceitos. Primeiro quero adiantar, nunca digeri muito bem esta história de “vocação” defensiva. Explico. Tradicionalmente utilizar retrancas ou formações defensivistas parte de um pressuposto lógico, um time de inferior qualidade técnica ou mal treinado. Sim, porque as formações defensivas são primárias e requerem menor treinamento ou entendimento tático dos atletas – seja isto no futebol, futebol de sete, basquete ou qualquer outro esporte onde se adote esta tática. Desta feita, esta vocação “defensiva” do Grêmio, por vezes me parecia um tentativa de empurrar goela abaixo do torcedor um característica moldada e escamotear os verdadeiros problemas – times fracos tecnicamente ou mal treinados. Enfim, aqui também parte do meu preconceito com alguns entendidos do futebol, que ainda encaram o esporte e tecem seus comentários baseados no que se via a décadas atrás, ou seja, permeados de ideias vetustas e inaplicáveis a realidade atual, com olhos que não se voltam a nada além do que acontece em Pindorama. Mas aqui agora entra a reflexão que me obrigou o texto do bruxo. O conceito de jogo implantado pelo moderno futebol europeu trouxe um nível de exigência demasiado o que se estendeu ao torcedor, ainda que inconscientemente, nos levando, por vezes, a esquecer das idiossincrasias do esporte bretão. E aqui falo do que ocorre além das quatro linhas, do histórico amadorismo dos dirigentes, da prosaica CBF, dos caricatos “atletas”, da imprensa “especializada”, da arbitragem e também dos quase 200 milhões de técnicos. Enfim, todo este caldo cultural dá características peculiares ao futebol nacional e, no que se refere ao Grêmio, impende ainda analisá-lo dentro de sua realidade regional. Pelo que me conta meu velho, muito desta característica “guerreira e peleadora” do tricolor vem não só da marca do povo gaúcho, mas sim da necessidade de competir em pé de igualdade com os grandes do centro do país, com maior apelo financeiro o que, consequentemente, permitia a formação de elencos melhores. De se ver que os grandes destaques da história recente do time não foram contratações “a peso de ouro”, mas sim reabilitados ou apostas. Dentro deste contexto, a mim fica claro que o clube, para ser competitivo, sempre necessitou do algo mais, ou seja, superar na vontade quando faltava técnica e, por vezes com times qualitativamente inferiores, adotar uma postura que tivesse na defesa o seu ponto forte. Enfim, vejo que algumas destas condições não mudaram, o Grêmio ainda não tem condições de disputar com patrocínios como Unimed ou angariar cotas televisivas do porte de Flamengo e Corinthians, mas mesmo assim ousou pagar salários incondizentes com a sua realidade financeira. Se Koff, em seu primeiro ano de gestão, apostou alto e pagou caro por isso em prol de um projeto que não se concretizou, parece que, a partir deste ano, recuperou a velha maneira de construir times e uma politica de gastos "pé no chão". Buscou recuperar algo de tradicional no clube e viu em Enderson, um treinador estudioso e cioso da evolução do esporte, a possibilidade de superar paradigmas. Enderson decepcionou, o Grêmio precisa trocar, mas igualmente o sucesso do futuro tricolor depende da resistência do seu mandatário em flertar com o pensamento mágico, um treinador “grosso, xucro, trabalhador, que mete o pé na porta e conhece a aldeia” é uma vitrola numa rave.

20 comentários:

  1. Glaucio Missioneiro04/06/2014, 10:36

    11 anos se passaram entre 83 e 94...será que o futebol não mudou entre esses anos?

    Eu não sei, não vivi essa época, só comecei a entender + - futebol lá por 2004-2005, mas, coincidentemente,
    quando voltou a ter um BOM treinador, gaúcho, o time teve uma ótima sequencia de títulos, 97, além de ser uma exceção pra confirmar a "regra", ainda tinha a base vencedora de anos anteriores.

    O Tite, mesmo sendo muito inteligente taticamente, e contando com jogadores de alto nível, não deixava de ter um estilo aguerrido e marcador.

    O FUTEBOL dos times do Grêmio não precisa se modernizar, tem que ser, simplesmente, Grêmio.

    Só um exemplo recente, enquanto o Corinthians se "agauderiou", o Grêmio se "acariocou", esse é a dura realidade.

    Enquanto eles apostavam em Mano e Tite, nós "inventávamos" Caios, Endersons, e o cúmulo foi o Vanderlei.

    E aqui não estou discutindo a capacidade dos treinadores, mas sim o estilo dos times.
    E, muitas vezes, em um time que leva poucos gols, não quer dizer que seja pela eficiência defensiva, e sim pelo goleiro, é só lembrar Victor em 2008 e 2009. E, por que não, Marcelo em 2014.

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    1. Paulo Juliano04/06/2014, 12:00

      Glaucio, acho que deixei bem claro - e foi até menção a algo que o bruxo comentou um tempo atrás - o pensamento mágico é: treinador “grosso, xucro, trabalhador, que mete o pé na porta e conhece a aldeia”. Não dou a mínima pra treinador trabalhador, eu quero treinador BOM!!!!!!!!
      E treinador bom, vai me desculpar, tem que conhecer muiiiiiiiiiiito de tática. Não adianta ser bronco como o Felipão e não saber fazer o time jogar, senão vira um Leão.
      E vai me desculpar Glaucio, mas o Corinthians não se "agauderiou", o time jogava com 03 atacante, então de defensivista não tinha nada! Era equilibrado, com uma boa defesa mas com ótimos atacantes.
      Não sei bem o que quis dizer com ser Grêmio, se é manter uma pegada, respeitar a tradição, formar bons jogadores, até nem discordo, agora se é a cantilena do "xerifão uruguaio", um treinador "xucro", um meia "argentino", 60% de jogadores da base, a eterna busca pelo novo Dinho e "jogar a morrir", são mais 15 de fila.
      Sobre os gols, Glaucio, impossível ter uma boa defesa com um único bom jogador.

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    2. Glaucio!
      Discordo que o sucesso da defesa se deva a A ou B no gol ou na zaga, basta lembrar e eu lembrei dias atrás que o que há de comum entre 12, 13 e 14, não é o treinador, nem o goleiro, mas Werley que esteve titular nos 3 anos em qualquer esquema e todos nós sabemos que não foi pela presença dele e sim, na minha opinião, na vocação de saber se defender dos times gaúchos seja, Minelli, Evaristo, Luiz Felipe Tite ou Luxemburgo.

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    3. Glaucio Missioneiro04/06/2014, 14:05

      Não falei em defesa boa, falei em número de gols sofridos.

      Pj, o Grêmio de 83 também jogava com 3 atacantes. Só que o time tinha pegada, marcação firme. A exemplo do Grêmio de 2001. Lembro até hoje de alguns lances onde 3 jogadores cercavam o adversário, é disso que eu to falando.

      Vocês se limitam a analisar posição e formação. Só que o futebol não é um jogo estático.

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    4. Glaucio Missioneiro04/06/2014, 14:07

      E bruxo, se o time SABE se defender, não leva tanto gol bobo de time fraco como levou em 2012/13 e até 14.

      Levar gol em mérito do adversário é uma coisa, gol por falha de marcação é outra.

      Pra mim, defesa boa é aquela que não deixa o adversário finalizar ou entrar na área com facilidade.

      Quando o goleiro se destaca, é porque algo não tá certo.

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    5. Paulo Juliano04/06/2014, 15:18

      Glaucio, concordo com tudo e por isso que mencionei não saber a qual "Grêmio" tu se referia. E só pra aproveitar, dentro deste contexto entra a utilidade do Dudu...e aqui eu to falando de função, não de posição.
      E aqui a birra com o Maxi...

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    6. Glaucio Missioneiro04/06/2014, 19:47

      Cara, já disse, não tenho nada contra o Dudu, acho um bom jogador, ponto.

      Porém, já disse várias vezes aqui, acho que Maxi seria mais útil, e o próprio Dudu joga com acumulo de função. Se tivesse sido mantido o Riveros na esquerda, por exemplo, não precisaríamos de um meia que voltasse tanto, e teríamos mais presença ofensiva.

      Mas enfim, pra mim, mesmo que continue após a copa, o Enderson é passado, até que me prove o contrário (longo período na liderança do brasileiro, ou, no mínimo, chegar na final da copa do brasil).

      E achei que o tópico era mais pra discussões gerais sobre o Grêmio, não especificamente esse ano.

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    7. Paulo Juliano05/06/2014, 09:18

      Mesmo que continue após a copa nada! Deus me livre disso.

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  2. Pj!
    Reforçando, nem Minelli, Evaristo, Antonio Lopes ou Abel serviriam se tivesse sempre que ser um treinador xucro. A diferença está na qualidade.

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  3. Glaucio Missioneiro04/06/2014, 14:02

    Mas e onde eu falei algo diferente ?

    Terceira linha....

    Não acho que nem Felipão seja retranqueiro (tanto que faziam gols em quase todos os jogos), mas ele sabe armar um time pra não dar espaços. Só os times dele não se atiram à moda loca pra frente, se não tiverem zagueiros e volantes que segurem a bronca.

    E não disse que o Corinthians virou retranca, mas que os times começavam por uma defesa organizada, firme.

    E me desculpem, mas a última defesa + - organizada que tivemos, desde 2013, foi a do Renato.

    O que eu não gosto, é desse papo de "futebol moderno" e/ou "tendências européias".

    O Arih já deu a letra em outro tópico, complicaram demais uma coisa simples como o futebol.
    Quanto tu menos inventar, melhor.

    E não precisa ser xucro, mas não pode ser dondoca também. Tem que saber botar ordem e disciplina nos caras. Tem que saber onde está pisando e saber lidar com isso.

    Meu, olha a defesa que o Abel tinha em 2006....Índio e Bolívar no ápice, Ceará, um abnegado marcador, Edinho, um brucutu à frente da zaga (ah pois é né...)

    putz, tinha o Tinga também, marcava pouco esse...

    Vocês parece que sonham em ver um time clássico, como 100% dos jogadores com qualidade de seleção, com o treinador sendo apenas um escalador. Isso é utopia. Ainda mais em um clube com as condições financeiras atuais do Grêmio. E mesmo assim, tá aí o Real Madrid pra provar que nem isso é suficiente, quase perderam pro Atlético.

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    1. Paulo Juliano04/06/2014, 15:29

      Nós Gláucio???? Poh, com tanta gente colocando a culpa no Pará, Werley, Edinho, Dudu e eu que levo a fama...
      Mas vamos lá, Ceará era, realmente, um abnegado marcador, que não sabia cruzar...Te lembra alguém?
      Quanto ao que você cita em relação a marcação, posições cada vez menos determinadas e baseadas num sistema de jogo mutante, isto são as "tendências modernas" que você tão pouco gosta.
      O que estamos apontando é que não tem mais espaço para o meia clássico, aquele que o time joga pra ele, que não precisa recompor, que pode perder a bola e os outros tem de se sacrificar, lembra alguém também?
      Acho que é concenso que um time é formado, em sua maioria, por jogadores medianos e - aqui é minha opinião, creio até que o bruxo discorda - em se tratando de Brasil alguns serão, fatalmente, cabeças de bagre (primeira função da volancia, onde não podemos contar com um Gerrard, Lampard).
      Enfim, jogadores medianos que cumpram sua função são bem vindo, o que não dá é pra achar que "raça e faca na bota" são o suficiente pra ganhar campeonato.

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    2. Glaucio Missioneiro04/06/2014, 17:34

      Veja quantos gols levamos pelo lado do Pará, e quantos o inter levava pelo lado do Ceará...
      O Pará é esforçado, mas não sabe roubar bola, no máximo joga pra escanteio ou lateral, enfim, é assunto batido, por isso até que tempos atrás eu achava até melhor botar o Saimon ali, porque se é pra não atacar, pelo bote um que feche o lado da zaga.

      Cara, nós chegamos numa final de libertadores com o Patrício ! Esse era outra taipa no ataque, mas segurava as pontas na defesa.

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    3. Glaucio Missioneiro04/06/2014, 17:50

      Pode não ser suficiente, mas eu (aí é preferência minha), consigo acreditar mais num time mediano, mas que tenha isso, do que num time cheio de estrelas, mas "conformado".

      O ideal seria a mistura de ambos. Mas um time raçudo, com um ou dois acima da média, incomoda, mas aí, é preciso trabalho do treinador.

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    4. Paulo Juliano04/06/2014, 18:41

      Mas Glaucio, um dos "extra-classe" pode sim, porque não, ser o treinador.

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    5. Glaucio Missioneiro04/06/2014, 19:43

      O ideal é que seja. O brabo é, entre outros casos, acreditar que o Enderson seja, e dar a responsabilidade de uma libertadores pra ele.

      Só pra fins de comparação, o Felipão, em 95, já tinha duas Copas do Brasil no currículo. Será que se tivesse perdido a de 94, teria continuado?

      Pra mim, confiança tem que ser merecida. Tite veio como aposta, e mereceu continuidade.

      Já Vanderlei e Enderson (pra ficarmos em exemplos recentes) .....

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  4. Paulo Juliano, belo post, parabens.
    Concordo contigo.
    Nao sera com um "um treinador grosso, xucro, trabalhador, que mete o pé na porta e conhece a aldeia” que iremos ser campeoes de alguma coisa.
    Neste aspecto voce coloca muito bem que as caracteristicas do povo gaucho geram este tipo de impressao (alem de varias outras coisas, entre elas, a proximidade com a Argentina e Uruguai que tambem colaboram com este esteriotipo).
    O proprio Felipao sabe fazer este esteriotipo muito bem, com todas aquelas "firulas" a beira do gramado e cara feia. Nao deixa de ser disciplinador, mas a figura de "paizao" ja nos revela um pouco de como ele trata a boleirada.
    Leao, como tecnico disciplinador e exigente, nao e vencedor. Muricy, declaradamente disciplinador, e admirado e vencedor.
    Tecnicos bons (Minelle, Tele) e ruins tem em todo lugar. Inegavelmente, tambem no sul foram produzidos otimos tecnicos: Felipao, Tite, Cuca, Oswaldo Brandao, Enio Andrade, ... .
    Por outro lado, ha treinadores que nao conseguem sucesso justamente porque nao possuem um minimo de qualidade no time e nao porque sao ruins. Querem que o tecnico tire "sangue de pedra". Querem que o Ibis jogue como um Barcelona.
    Tem que haver equilibrio num time de futebol para que o sucesso lhe bata a porta.
    Um time vencedor comeca por uma administracao que queira ser vencedora, um bom treinador que receba os jogadores de que necessita para por em pratica suas ideias, que o time tenha uma boa defesa, bom meio campo e bom ataque, jogadores que se encaixam no esquema de jogo do tecnico e tenham um bom ambiente, alem, e claro e fundamental, que recebam o que foi prometido (pode ate ser pouco, mas que recebam o combinado).

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    1. Glaucio Missioneiro05/06/2014, 08:01

      Dia desses o Felipão terminou um treino mais cedo, p da cara com o desempenho dos jogadores...

      só pra verem a diferença de postura em relação ao que temos tido por aqui.

      Isso de dar os jogadores que o técnico preciso pra por em prática suas idéias é muito relativo, teoricamente, Vanderlei e Enderson trouxeram muitos dos seus escolhidos...e o time piorou em relação ao anterior

      Renato trouxe só um. E deixou o time na vice liderança.

      Se o treinador é ruim, não adiantar dar os jogadores que ele quer. E isso, na minha visão de futebol, é inversão de hierarquia. A idéia de futebol e o estilo de jogadores e treinadores tem que vir de cima.

      Quem tem que decidir as contratações é a direção. Lógico que um ou outro vai ser debatido com o treinador. Mas o BOM treinador, tira o melhor das peças que tem.

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    2. Glaucio Missioneiro05/06/2014, 08:03

      A, e o Renato nasceu em Bento né ? Rio Grande do Sul, né ? kkkk

      É foda...

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    3. Paulo Juliano05/06/2014, 09:22

      Obrigado Arih.
      Esse aspecto que tu tanto frisa - o salário - é realmente um dos fatores mais importantes, primordiais no time!
      Mas, como sempre, tem gente que se alia ao pensamento mágico e acredita que o grupo de jogadores vai fazer um "pacto pela vitoria" mesmo de bolso vazio...

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    4. Glaucio Missioneiro05/06/2014, 10:48

      Inegável, o começo de tudo é o salário em dia.

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