Pequenas Histórias (103) - Ano - 1972
A Estreia de Picasso
Fonte: Revista do Grêmio nº 62 Ano XVIII |
Com seis, sete anos, comecei a compreender o que era futebol e isso chegou num período vitorioso do meu time, a Era dos "A", explico, havia muitos craques cujo nome iniciava pela primeira letra do alfabeto: Altemir, Airton, Áureo, o goleiro Arlindo, o maior goleador da história tricolor, Alcindo e especialmente, outro arqueiro, Alberto. A fase que culminou com o hepta-campeonato em 1968.
A seguir, vieram os anos tristes, difíceis, especialmente a primeira metade dos anos 70. Por coincidência, o início veio com a saída tempestuosa do excepcional goleiro gremista. Depois dele, houve a busca pelo seu sucessor: o já decadente Arlindo, o jovem Breno, queimado num Grenal, o bicampeão carioca Cao, até a Direção apostar em Jair.
Jair era um dos goleiros negros que estavam surgindo nos grandes clubes brasileiros: Ubirajara Alcântara no Flamengo, Jairo no Coritiba, País no América do Rio e um mais antigo, Orlando na Portuguesa de Desportos. Pois bem, Jair era da base gremista, fizera nome num juvenil que ficara mais de cem jogos invictos, de onde saíram, além dele, Espinosa, Beto Bacamarte, Zeca, Romualdo, Adilson, etc...
Jair era gente boa, bem relacionado, mídia e torcida simpatizavam com ele, também não falhava; os gols que sofria eram bolas indefensáveis e suas defesas, invariavelmente espetaculares. Quando Everaldo entrou em depressão pela sacanagem que fizeram com ele na Minicopa, Jair foi um dos seus melhores amigos. Só tinha um problema: Era pequeno para a posição. Parte da torcida, desconfiava dos tentos sofridos pelo Imortal.
Jair era gente boa, bem relacionado, mídia e torcida simpatizavam com ele, também não falhava; os gols que sofria eram bolas indefensáveis e suas defesas, invariavelmente espetaculares. Quando Everaldo entrou em depressão pela sacanagem que fizeram com ele na Minicopa, Jair foi um dos seus melhores amigos. Só tinha um problema: Era pequeno para a posição. Parte da torcida, desconfiava dos tentos sofridos pelo Imortal.
Aí, Brasileiro de 1972, o Grêmio experimentou uma sequência maluca de 6 jogos sem vencer, sendo 5 derrotas seguidas, isso, sem fazer um único gol: Vasco, Santa Cruz, Corinthians, Palmeiras, todas por 1 a 0 e a última, 2 x 0 no Maracanã para o Fluminense com Deca já substituindo Jair na meta. Resultado; sobrou para o treinador Daltro Menezes e para Jair.
O Grêmio foi às compras e trouxe o goleiro gaúcho Picasso, que estava no Atlético Paranaense. Anteriormente, um dos cotados para a Copa de 70, junto com Alberto, mas que o destino não premiou. No ano do mundial do México, Picasso ganhou a Bola de Prata como melhor goleiro do campeonato nacional (Robertão).
Para o lugar de técnico, o Tricolor inovou, colocou uma lenda na casamata, Milton Kuelle, dentista de profissão, mas, também, um dos maiores meio-campistas do clube. Num período de profissionalismo, aceitou treinar de graça. Uma coisa inimaginável.
No dia 19 de Novembro, o Imortal encarou o campeão carioca, o Flamengo de Zagallo, que desfalcado de meio time, mandou à campo: Renato; Moreira, Chiquinho, Fred e Mineiro; Liminha e Rodrigues Neto; Vicentinho, Caio Cambalhota, Doval e Arílson. Utilizou ainda o folclórico Fio Maravilha e um menino de 19 anos, Zico, nos lugares dos ponteiros.
Milton Kuelle usou Picasso; Everaldo, Ancheta, Beto Bacamarte e Jorge Tabajara; Ivo Wortman, Carlos Alberto e Loivo; Catarina, Oberti e Lairton. Entraram o volante Paulo Sérgio no lugar do ponta esquerda Loivo e Mazinho no do argentino Alfredo Oberti. Como curiosidade; Catarina ou Norberto é irmão de Beto Fuscão e pai do volante Eduardo Costa.
Como não poderia deixar de ser (pelas circunstâncias), a partida foi dramática, com o Grêmio empilhando chances diante da apatia carioca, até que aos 28 minutos, o centro-avante Lairton se aproveitou do vacilo do ex-gremista Chiquinho Pastor, roubou a pelota e rolou para Loivo, que acertou um chute fraco, porém, colocado, fora do alcance de Renato. Decorriam 28 minutos do tempo inicial. 1 a 0, que seria o resultado definitivo do confronto.
Apesar de não contar com Paulo Cesar Caju, Zanata, Reyes e Tinteiro, o Mengo veio para cima e aí, Picasso mostrou ser o goleiro sonhado pela torcida. Ruy Carlos Ostermann, cronista do Correio do Povo, dedicou espaço em sua coluna à atuação do arqueiro, "O Tamanho do Goleiro", um título com sentido duplo.
Considerado, juntamente com Loivo, os dois maiores destaques da partida, o "goal-keeper" nascido em Canela, trouxe a segurança tão desejada ao arco gremista.
Picasso jogou por quatro temporadas no Imortal (72 a 75) e compôs ao lado de Everaldo, Ancheta e Tarciso, o quarteto tricolor, que encarnou o duro ofício de resistência gremista no enfrentamento contra o melhor Inter de todos os tempos.
Fonte: Revista do Grêmio
Correio do Povo
Arquivo pessoal do amigo Alvirubro
Milton Kuelle usou Picasso; Everaldo, Ancheta, Beto Bacamarte e Jorge Tabajara; Ivo Wortman, Carlos Alberto e Loivo; Catarina, Oberti e Lairton. Entraram o volante Paulo Sérgio no lugar do ponta esquerda Loivo e Mazinho no do argentino Alfredo Oberti. Como curiosidade; Catarina ou Norberto é irmão de Beto Fuscão e pai do volante Eduardo Costa.
Como não poderia deixar de ser (pelas circunstâncias), a partida foi dramática, com o Grêmio empilhando chances diante da apatia carioca, até que aos 28 minutos, o centro-avante Lairton se aproveitou do vacilo do ex-gremista Chiquinho Pastor, roubou a pelota e rolou para Loivo, que acertou um chute fraco, porém, colocado, fora do alcance de Renato. Decorriam 28 minutos do tempo inicial. 1 a 0, que seria o resultado definitivo do confronto.
Apesar de não contar com Paulo Cesar Caju, Zanata, Reyes e Tinteiro, o Mengo veio para cima e aí, Picasso mostrou ser o goleiro sonhado pela torcida. Ruy Carlos Ostermann, cronista do Correio do Povo, dedicou espaço em sua coluna à atuação do arqueiro, "O Tamanho do Goleiro", um título com sentido duplo.
Considerado, juntamente com Loivo, os dois maiores destaques da partida, o "goal-keeper" nascido em Canela, trouxe a segurança tão desejada ao arco gremista.
Picasso jogou por quatro temporadas no Imortal (72 a 75) e compôs ao lado de Everaldo, Ancheta e Tarciso, o quarteto tricolor, que encarnou o duro ofício de resistência gremista no enfrentamento contra o melhor Inter de todos os tempos.
Fonte: Revista do Grêmio
Correio do Povo
Arquivo pessoal do amigo Alvirubro
Bah, um primor de "Pequena História", Bruxo!
ResponderExcluirEm 50 linhas, tantos fatos e personagens inesquecíveis. Os goleiros negros, o time dos "As", Breno, Cao (que era gaúcho), Zanata, Reyes, Paulo Cézar Lima, o Cajú, Jair, Deca, e outros...
Lembro-me, ainda, de outros goleiros negros: Aguinaldo, do Vitória, Neneca, do Coritiba, Hélio Show, do Ceará, Borrachinha, do Nacional, Vermelho, do CRB...Bons tempos!
Neneca era do Naútico-PE, na época.
ExcluirVerdade!
ResponderExcluirO Agnaldo do Vitória, jogou no Santos com Pelé. Neneca, se não me engano, era do Londrina, depois Náutico Capibaribe.
Bruxo, falando em Picasso, tem algumas passagens que marcam a vida do jogador. Depois que saiu do Cruzeiro e foi para o São Paulo, a primeira vez que o Picasso voltou a POA foi justamente num jogo contra o Grêmio. Veja:
ResponderExcluirGRÊMIO (RS) 1x1 SÃO PAULO (SP)
Data: 22.09.1968, domingo
Local: Olímpico,Porto Alegre-RS
Renda e Público: NCr$ 45.767,00 - 17.702
Árbitro: Roberto Goycochea
Gols: Nenê 35, Alcindo 60
GFBPA: Alberto, Espinosa, Ary Ercilio, Aureo, Everaldo, Jadir, Paíca, Flecha, João Severiano (Sérgio Lopes), Alcindo (Loivo), Volmir. Técnico: Sergio Moacyr Torres Nunes
SPFC: Picasso, Celso, Eduardo, Roberto Dias, Dé, Nenê, Carlos Alberto Rodrigues (Lourival), Miruca, Nelsinho, Téia (Babá), Paraná. Técnico: Diede Lameiro
Carlos Alberto Rodrigues, que jogou no Grêmio e está nessa partida de estreia do Picasso.
ExcluirPicasso, no Grêmio:
ResponderExcluir186 jogos
106 vitórias
45 empates
35 derrotas
O goleiro Arlindo no Grêmio
ResponderExcluir213 jogos
138 vitórias
41 empates
34 derrotas
O goleiro Cao no Grêmio
6 jogos
2 vitórias
1 empate
3 derrotas
O goleiro Breno no Grêmio
58 jogos
43 vitórias
12 empates
03 derrotas
17.03.1970 - Grêmio 1 x 2 Flamengo
02.09.1970 - Grêmio 0 x 2 Santos
20.09.1970 - Grêmio 1 x 2 Internacional - o jogo que "crucificou" Breno
O goleiro Jair no Grêmio
140 jogos
79 vitórias
40 empate2
20 derrotas
O Breno foi um dos maiores injustiçados da história do futebol gaúcho. Faltou apoio da Direção gremista e também imparcialidade da imprensa, que bateu muito forte.
ExcluirBreno Luis Kirinus, Santo Antonio da Patrulha (RS)
ResponderExcluirDN: 01.08.1945 (*)
DF: 01.10.1995 (+)
Breno foi revelado nas categorias de base do Grêmio. Fez sua estreia no time principal do Tricolor em um amistoso na cidade se Santa Maria (03.03.1963 - Grêmio 7 x 0 Guarany Atlântico), com 17 anos. Substituiu a Henrique, durante a partida. Foi campeão estadual em 1965, 1966, 1967 e 1968, embora na reserva.
O goleiro Neneca, já falecido, deteve durante alguns anos a marca de maior invencibilidade, como goleiro. Ficou 1.636 minutos sem sofrer gol em partidas oficiais do Campeonato Pernambucano. Foi ultrapassado pela marca alcançada por Mazzaropi, quando jogava pelo Vasco da Gama, que ficou 1.816 minutos sem ser batido, no Campeonato Carioca.
ResponderExcluirquase rolaram lágrimas, recebi o nome de airton em homenagem ao pavilhão mesmo, e comecei a torcer entre 69 a 71, por volta dos 7 a 8 anos. que época braba. só acabou quando eu tinha 14 em 77. falavam cada coisa do picasso que dava a imprensão de ser fraco, mas acho que não.
ResponderExcluirBelo comentário. A gente fica feliz. Antes de ser uma singela postagem, ela é uma homenagem aos nossos ídolos da infância e adolescência.
Excluirquase chorei, me lembro desses caras mas só no rádio de longe, tinha 5 em 68. o sofrimento só acabou em 77. saudade do cecóbi Jartim itú educandário.
ResponderExcluirGrande abraço. Grato pelo gentil comentário.
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