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quinta-feira, 20 de julho de 2017

Opinião



Sant’Ana do Rio Grande e muito mais


Morreu Francisco Paulo Sant’Ana, o Paulo Santana de todos os dias. Muitos já escreveram que começavam a leitura da Zero Hora de trás para frente; eu era um desses leitores.

Recentemente, concluí a leitura da biografia de Paulo Barreto (1881-1921), o jornalista e literato que adotou o nome de João do Rio; transformando-se no maior cronista de sua época, retratando de forma incomparável a sociedade da então capital federal.

Pois, Santana se transformou num ícone gaúcho semelhante ao João do Rio, por captar com grande sensibilidade, astúcia e talento, o cotidiano de nosso pago, sem descuidar do que acontecia no mundo. A gente sempre buscava conhecer o que ele pensava sobre os assuntos do momento. Como João do Rio, Santana dividia as opiniões.

Entre as muitas qualidades que admirava nele, há duas que me marcaram muito desde guri, a qualidade do seu texto e a sua capacidade de enfrentamento do universo vermelho que o cercava nos anos 70, amplamente desfavorável para os gremistas.

Até em suas últimas aparições, já em tempos mais ensolarados para o Grêmio não deixou de desembainhar o seu sabre na esgrima diária na defesa do Imortal.

Uma derradeira lembrança do grande cronista: A dele se comparando ao líder espartano Leônidas no desfiladeiro das Termópilas  diante da superioridade numérica de persas; Santana estava na companhia de seus colegas  Paulo Brito, Maurício Saraiva, Nando Gross e Diogo Olivier num bate-papo nas dependências da empresa que atuava, pouco antes de apresentar o seu quadro na televisão. Embora cercado, não hesitou em defender o seu clube do coração.

Com ele fora de combate e a visível queda de qualidade do jornal em que atuava, eu, aos poucos, fui me acostumando com sua ausência, mas sempre mantendo uma pequena esperança de tê-lo em nosso dia-a-dia novamente.

Ontem, a esperança foi embora.


8 comentários:

  1. Não sou do RS, então desculpe a ignorância, mas o Sant'Ana foi uma figura tão emblemática?
    Falo isso pois vejo comentários tanto de gremistas como de colorados em relação a sua morte.

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  2. Marcelo Flavio
    Sem dúvida; ele por anos a fio, foi o cronista mais lido do Estado.
    Além do ótimo texto,ele era uma figura única. Não havia meio-termo; simpatizávamos e vice-versa.

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  3. Minha próxima PH terá algo motivado pela grande trajetória dele.

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  4. Marcelo Flavio
    Uma das crônicas do Santana:
    http://wp.clicrbs.com.br/paulosantana/?s=Meus+Secretos+Amigos&topo=77%2C1%2C

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    1. Sensacional.
      Sensibilidade ímpar nessa crônica.

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    2. Me identifiquei com essa crônica. Sou um cara meio reservado, as vezes pareço "cheio", não sou de procurar parentes e amigos, nem de mandar parabéns ou lembrar datas especiais, já cheguei até a ouvir que sou frio. Só que, em quase tudo o que vou fazer na vida, antes de fazer, inconscientemente, me vem à mente o que as pessoas de meu convívio (mesmo que que não conviva muito com elas rsrsrs) pensariam. Pode ser um defeito, mas me importa muito o que as pessoas pensam sobre o que digo ou faço. Além disso, raramente nego um convite, seja para o que for.

      Ou interpretei errado o texto hehe

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    3. Glaucio
      Eu também interpretei da mesma forma este texto; sou assim como tu te descreveste; não consigo abrir mão de ser reservado; este blog, este apelido, acabam sendo um momento de interatividade, diferente do meu cotidiano. Me considero um ser sociável, mas tenho dificuldade de me expressar neste (para mim) turbilhão de datas comemorativas; dia disso, dia daquilo, etc... Aí entra a crônica do Santana e a gente vê que não somos "esquisitos". Tem mais pessoas neste barco. Abraços.

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  5. Marcelo Flavio
    Ouvi comentários que era um cara de difícil gênio; ouvi o contrário também, mas nós, "simples mortais" precisamos fazer a distinção entre a obra e a pessoa, porque os gênios vivem numa outra "instância".

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