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segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Pequenas Histórias


Pequenas Histórias (171) – Ano – 1972

O Choro de Ancheta


Fonte:tardesdepacaembu.wordpress.com

O selecionado nacional joga esta semana no Rio Grande e sempre que isso ocorre, eu lembro do distante 1972, o Torneio do Sesquicentenário da Independência realizado no Brasil. À partir daquele evento a Seleção Brasileira de futebol me passou a ser algo indiferente.

A origem disso está relacionada com a não convocação de Everaldo, aliás, o único titular de 70 descartado pelo senhor Mário Zagallo. Pelé dera adeus ao selecionado no ano anterior; mais tarde, outros tricampeões foram cortados por lesões. Everaldo não, o treinador preferiu Marco Antônio (Flu) e Rodrigues Neto (Fla).

Contei isso na crônica 18 das Pequenas Histórias, Vide Pequenas Histórias 18, quando o Estádio Pinheiro Borda recebeu mais de 100 mil torcedores, recorde absoluto no Pampa gaúcho.

Muita gente viveu ou leu sobre aquela guerra de 17 de Junho, o 3 a 3, Gaúchos versus Brasil, mas poucos sabem ou lembram que um mês antes, os Gaúchos fizeram amistoso contra o Uruguai, que se preparava para uma excursão ao continente europeu e mais tarde, para o Torneio da Independência em nosso país.

Trago na memória  com muito carinho esta partida, porque naquela tarde estava na casa dos amigos Fernando, colorado e Vitor Hugo, gremista e goleiro do nosso time, irmãos, onde uma gurizada jogava botão e no campinho nos fundos da casa participavam de uma pelada. Era um rodízio, dois jogavam “futebol de mesa”, outro ia para o sacrifício; ser o juiz da partida; os demais batiam bola, esperando a sua vez no campo de compensado com seus times e regras próprias que criamos.

Como a Seleção Gaúcha era um combinado Grenal, nos tínhamos uma disputa particular; Jogadores gremistas ou colorados, quais se dariam melhor no confronto? Sem ouvir a partida, apenas éramos informados dos gols da partida, quando tudo era interrompido: Futebol de mesa, o jogo no campinho para a atualização dos acontecimentos do Beira-Rio.

Aparício Vianna e Silva utilizou no confronto: Schneider; Cláudio Duarte, Elias Figueroa, Atílio Ancheta e Everaldo; Carbone, Tovar (Bráulio) e Torino (Dorinho); Valdomiro, Claudiomiro e Oberti (Mazinho). Praticamente, os mesmos onze que encararam em Junho o Brasil. Uma única troca que eu não sei até hoje o porquê: Cláudio jogou essa, porque Espinosa não pode ou Espinosa enfrentou os brasileiros, porque Cláudio não pode?

Washington Etchamendi usou: Luis Aguerre (Alberto Carrasco); González, Jauregui (Francisco Campo), Ascery e Blanco; Montero Castillo, Espárrago e Maneiro (Júlio Giménez); Ferreira, Lattuada e Romeo Ruben Corbo (Fernando Morena).

Etchamendi ainda sonhava em contar com os craques do Exterior: Mazurkiewicz (Atlético Mineiro), Pedro Rocha (São Paulo), Atílio Ancheta (Grêmio), Pavone e Garristo (Independiente da Argentina), Repeto (Cruzeiro) e Cortez (Vera Cruz do México). Realmente, um sonho, ninguém veio.

Os Gaúchos foram arrasadores; Oberti marcou duas vezes, aos 8 e 10 minutos. Valdomiro faria o terceiro aos 16. Lattuada descontou aos 30 minutos. Fim de primeira etapa. 3 a 1.

A Seleção local reduziu o ritmo, esperando o final, apenas cadenciou a partida, esperando o apito derradeiro.

O lateral Blanco, quando faltavam 30 segundos para o encerramento do tempo regular, marcou, dando números definitivos ao placar. 3 a 2.

Para um atleta em campo, este jogo teve um sabor especial e uma sensação única. Ao sair de campo com a camisa da Celeste Olímpica às mãos recebida em troca da sua, Ancheta, o melhor zagueiro da Copa de 70 (foto acima) e um dos destaques deste jogo; perguntado como se sentira enfrentando a Seleção de seu país, não resistiu, não segurou as lágrimas.

Deve ter sido bem difícil enfrentar  aquela empreitada, contudo, mal sabia  que com o passar dos anos,  o vínculo com o Brasil seria tão importante para ele, quanto o de sua terra natal.

Fonte: Arquivo pessoal do amigo Alvirubro



13 comentários:

  1. Bons tempos, Bruxo!
    Jogos emblemáticos da Seleção Gaúcha contra outras seleções importantes do cenário mundial.
    Aliás, aquele início dos anos 70 foi diferente.
    Tínhamos vencido o Mundial do México com uma Seleção inesquecível.
    Várias seleções e times do mundo todo migravam para o Brasil a fim de jogar amistosos e levavam multidões aos estádios brasileiros.

    Sobre a ausência de Espinosa no time, presumo que tenha ocorrido mais ou menos isso: esse jogo antecedia um GRENAL, realizado em 21 de Maio de 1972.
    É possível que Espinosa estivesse se recuperando de alguma lesão. Explico: dia 10 de Maio de 1972, o Grêmio jogou contra o FC Santa Cruz, no Olímpico, pelo Gauchão. Cláudio Radar foi o lateral direito.
    Já no GRENAL, Espinosa foi o lateral. O que me leva a crer que estava se preparando para o clássico, que terminou empatado em 2x2.
    Interessante que dia 11 de Maio de 1972, frente ao Aimoré, Dino Sani usou Cláudio Duarte como lateral direito, no Colorado.
    Aparício Vianna e Silva repetiu o lateral rubro no selecionado gaúcho, dia 14.
    A presença do "Claudião" chama a atenção porque Edson Madureira era o titular de Dino.
    Madureira não estava no jogo contra o Aimoré, dia 11; não jogou no selecionado gaúcho, assim como Espinosa, mas no GRENAL do 2x2, estava em campo.
    Coisas que só o GRENAL proporciona para o torcedor.

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  2. Dois embates muito parecidos e com motivos idênticos:
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    17.06.1972 - RIO GRANDE DO SUL 3x3 BRASIL
    Estádio Gigante da Beira-Rio, Porto Alegre
    Público: 106.554
    Árbitro: Robert Helies (França)
    Gols: Tovar 48', Jairzinho 53', Carbone 57', Paulo Cezar Caju 60', Claudiomiro 82', Rivellino 85'
    RIO GRANDE DO SUL
    Schneider; Espinosa, Atilio Ancheta, Elías Figueroa e Everaldo; Carbone, Tovar e Torino; Valdomiro, Claudiomiro e Obberti (Mazinho).
    Técnico: Aparício Viana e Silva Brasil
    BRASIL
    Leão (Sérgio Valentim); Zé Maria, Britto, Vantuir e Marco Antônio; Clodoaldo, Piazza e Rivellino; Jairzinho, Leivinha e Paulo Cézar Lima.
    Técnico: Zagallo
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    25.05.1978 - RIO GRANDE DO SUL 2x2 BRASIL
    Estádio Gigante da Beira-Rio, Porto Alegre
    Público: 65.000 (estimado)
    Árbitro: Airton Vieira de Moraes
    Cartão amarelo: Eder, Falcão, Caçapava, Jorge Tabajara, Toninho, Abel, Polozzi
    Gols: Toninho 1', Nelinho 10', Lucio 30', Eder 87'
    RIO GRANDE DO SUL
    Walter Corbo; Lucio, Francisco Salomón, Oberdan e Jorge Tabajara (Ladinho); Caçapava (Jair), Falcão e Thadeu Ricci; Tarciso, André Catimba e Eder.
    Técnico: Aparício Viana e Silva
    BRASIL
    Leão (Carlos); Nelinho (Zé Sérgio), Abel, Polozzi e Rodrigues Neto; Chicão, Toninho Cerezo (Dirceu) e Batista; Toninho, Reinaldo (Roberto Dinamite) e Jorge Mendonça.
    Técnico: Cláudio Coutinho
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    1. Em 78, claramente, a Seleção Gaúcha era fraca defensivamente.

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    2. Verdade! O que chama a atenção é o Toninho, improvisado de atacante, numa Seleção Brasileira que deixou de fora vários ponteiros de qualidade.
      Realmente, a "comissão escaladora" se superou nessa seleção de 1978.
      Acho que o Gil não jogou por problema físico ou lesão.
      Veja que mesmo com grandes jogadores, à época, sempre havia algo que criava alguma animosidade nas convocações.

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  3. Bruxo, e dizer que havia mais de 100 mil torcedores, no estádio, em 1972!!!!
    Quantas cidades do RS têm mais de 100 mil habitantes? Talvez umas 20, 25 cidades, se tanto?

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  4. Naquela época? Talvez 20 cidades. Foi algo impensável e o Brasil tomando vaia direto.

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    1. A reclamação do Paulo Cézar, o Caju, foi que ao entrar no gramado não havia sequer uma bandeira brasileira. Segundo o Paulo Cézar, foi algo surreal para os jogadores, na época, que esperavam uma recepção calorosa. Mais tarde eles acabaram entendendo as divergências provocadas pela não convocação de Everaldo.

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  5. Alvirubro
    O treinador da época era do Flamengo, ele acabou convocando quase todos os rubro-negros em diferentes convocações para torná-los calejados ou um termo atual, cascudos. Tirou proveito próprio.

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    1. Enquanto o sul, o nordeste, o norte, o centro-oeste não entenderem qual é sua participação neste contesto, jamais crescerão. Enquanto isso o futebol foi ontem, é hoje e será por muito tempo dominado pelo sudeste. É lá que está o poder político e econômico da brincadeira. Seleção Brasileira? Sempre será de maioria centrista, ocorra o que ocorrer. O "marketing" é agressivo.

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  6. Alvirubro o Grêmio já fez jogos contra estas seleções? Carlos-SC.

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    1. Sim, Carlos, fez vários jogos contra Seleções Nacionais, Seleções Olímpicas, Seleções Regionais, Combinados e outras seleções internas.

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    2. Algumas seleções adversárias: Argentina, Argélia, Bolívia, Bulgária, Costa Rica, Dinamarca, El Salvador, Guatemala, Grécia, Honduras, Hungria, Irã, México, Nigéria, Peru, Romênia, Tailândia, Uruguai, URSS.



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