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sábado, 10 de março de 2018

Pequenas Histórias



Pequenas Histórias (188) – Ano – 1986

A Revanche de China



Em Março de 1986, o Brasil ainda estava em transe, surpreendido por um plano econômico que “congelou” os preços e apresentou mais uma moeda na história brasileira, desta vez, o Cruzado. No timão da economia, o ministro Dilson Funaro ditara novas regras em 28 de Fevereiro para domar a inflação que começou a declinar, depois de ter alcançado mais de 100 % ao ano em Junho de 82, permanecer sempre na ascendente no estertor do período da ditadura militar, chegando a mais de 200 % em Novembro de 84 e 256% em Fevereiro/86. Só quem viveu sabe como era duro comprar um produto num dia e no seguinte, o preço já não era mais o mesmo.

Apesar destes solavancos no bolso, a vida prosseguia e nem tudo era tristeza e apreensão, especialmente para nós, gremistas, que havíamos retomado a hegemonia regional no ano anterior e sem saber à época, que um hexacampeonato estava por chegar (85,86,87,88,89 e 90).

Naquele mês, assisti o meu primeiro Grenal no estádio Beira-Rio. Eu e mais de 35 mil pessoas numa tarde de Domingo. O Tricolor liderava o campeonato e poderia ampliar a vantagem.

Valdir Espinosa mandou a campo: Mazaropi; Raul, Baidek, Luís Eduardo e Casemiro; Paulo Bonamigo, Osvaldo e Luís Carlos Martins; Caio Júnior, Albeneir e Valdo. China, o grande personagem do clássico, entraria no lugar do atacante recentemente falecido, Caio Júnior.

O Inter de Otacílio Gonçalves da Silva Júnior compôs com: Cláudio Taffarel; Luís Carlos Winck, Pinga, Aloísio e Marco Aurélio; Marquinhos, Airton e Tita; Sílvio, Sabará e Balalo. Silvio deu lugar a Robertinho na única troca vermelha.

Para os mais jovens é de estranhar a ausência de dois nomes nesta escalação; Renato e China. O primeiro estava impossibilitado de jogar e o segundo vinha sendo contestado pela torcida e seu futebol sempre útil estava sendo atropelado por uma dupla de centro-médios de muitíssima qualidade, Bonamigo e especialmente, Luís Carlos Martins; então o volante formado no 14 de Julho de Passo Fundo, amargava uma inédita reserva naquele ano. O que fazer? O time engrenara sem ele; estava líder e invicto, o jeito era esperar uma brecha.

Para este clássico em que estava 3 pontos à frente (cada vitória valia 2 pontos),  jogando na casa do adversário, Espinosa recheou o meio fazendo Caio Júnior e Valdo atuarem na mesma linha de Osvaldo, à frente dos dois volantes, deixando isolado o “socrático” Albeneir na briga contra os defensores colorados.

A estratégia deu certo e o Inter não conseguiu furar o bloqueio azul. O 0 a 0 do primeiro tempo escancarou a escassez de oportunidades de gol.

Na etapa final, o Coirmão teve duas chances de marcar; numa Luís Eduardo, considerado o melhor em campo, travou chute de Sabará. Na segunda, Mazaropi brilhou em chute do ex-gremista Tita.

Espinosa resolveu fechar mais o time, promovendo a entrada de um especialista na marcação: China, retirando o avante Caio Júnior. Um empate no Grenal faltando 8 partidas, sendo 4 em casa, não era nada desprezível (sempre lembrando que vitória valia 2 pontos).

Aí, ocorre o lance quase único de ataque gremista na etapa derradeira: China usando o pé esquerdo, desfere um petardo do “meio da rua” e vence Taffarel. Golaço. Decorrem 36 minutos. O Grêmio havia chutado uma vez apenas, Osvaldo aos 26 minutos com o goleiro pegando.

Era a redenção do volante campeão do mundo. O jornal chegou a utilizar a expressão o “marginalizado” para definir sua situação. Exagero, certamente, porém, China deu uma bela resposta às vaias e pedidos de seu afastamento dos onze.

Com o 1 a O definitivo, o Imortal disparou naquele primeiro turno; foi a 17 pontos com 8 vitórias, 1 empate e zero derrotas, portanto, 1 ponto perdido.

Ele garantiu o título da primeira fase e mais adiante meteu a mão no caneco, virando bicampeão em 86.

Ele ainda jogaria no Grêmio até 1987, novamente titular com o jovem treinador Luiz Felipe Scolari.

 China foi o herói do meu primeiro Grenal em estádio. Curiosamente, eu não havia visto um clássico sequer com quase 27 anos.

Fonte: Arquivo pessoal do amigo Alvirubro


10 comentários:

  1. 1) CHINA NO GRÊMIO (14º atleta que mais vestiu a camiseta Tricolor, na história do Grêmio)
    382 Jogos
    214 Vitórias
    106 Empates
    062 Derrotas

    2) CHINA NO CLÁSSICO GRENAL
    24 jogos
    10 vitórias
    09 empates
    05 derrotas

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    1. Bons números. Indica o período áureo do clube. Quase em cada 5 perdeu 1.

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  2. Alvirubro, tens os jogos em que o Sisson e o Gertum fizeram seus gols? Foram muitos gols em poucos jogos. Michel-SC.

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    1. Michel,

      não sei avaliar se Gertum e Sisson marcaram muitos gols e se jogaram pouco jogos, pois o período é incompleto de informações. Entretanto, acredito naquilo que escreveste: ..."muitos gols e poucos jogos".

      Considerando que nessa época houve as maiores goleadas do Grêmio, é provável que as lacunas a serem preenchidas sejam repletas de gols da dupla. Uma pena que não tenhamos, ainda, tantas informações.

      O que posso dizer é que Gertum aparece em 61 jogos já confirmados por diversas fontes cruzadas e teria marcado 37 gols, entre 1915 e 1920.

      Quanto a Sisson, já consegui certificar 60 jogos dele, entre 1911 e 1916. Ainda estou avaliando a presença dele em outros 6 jogos, que tenho apenas uma fonte de pesquisa. Quanto ao número de gols, ainda não tenho fechado. Está na mesma situação do Gertum.

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    2. Você tem estes gols listados? Podes postar? Obrigado, Michel-SC.

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    3. O Grêmio teve outros jogadores com apelido de China: um jogador dos anos 50 e o Carlos Kao Yen dos anos 90 (espero ter escrevido o nome certo). Michel-SC.

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    4. Pelos números dele no Grenal, deve ter sido uns do que disputou o clássico. Alvirubro, quem são os 20 jogadores que mais jogaram o Grenal (tanto por Grêmio, quanto por Inter)? Michel-SC.

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  3. O que dizer de quase 400, perder pouco mais de 60 jogos? Muito bom.

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  4. Bruxo, uma pergunta que nao tem a ver com essa postagem: é verdade que José Omar Pastoriza, treinador que venceu o Gremio a final da Libertadores de 1984 pelo Independiente, treinou o proprio Gremio em 1985? Achei esta citacao no Wikipedia e em alguns artigos, mas nao achei registro nenhum.

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  5. Não; nunca treinou. Talvez a confusão seja com Sabella, mas este esteve como jogador em 85. Ou ainda com Juan Mujica, uruguaio que treinou o Imortal nos anos 80.

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