Memórias (10) – Ano -1986
O Dono da Copa
A segunda Copa
realizada no México foi a primeira que assisti “inserido no mercado de
trabalho”. Deixo fora os estágios realizados durante a anterior (1982).
Já residia em Porto Alegre,
o que me proporcionou uma situação inusitada, ou seja, ver os jogos em locais
diferentes; Argentina 2 x 1 Inglaterra,
casa da minha prima Nancy e família, que mora ainda no mesmo lugar, a rua onde
também moravam os pais do convocado, o amigo Mauro Galvão, próxima ao Olímpico
Monumental. Antes, almoçamos.
A desclassificação
brasileira diante dos franceses, vi na casa do colega Agostinho, após outro
almoço com sua família, no Passo D’ Areia, próximo ao Viaduto do Obirici. Já
Bélgica 0 x 2 Argentina foi com um olho no trabalho, outro na tevê. Dois
golaços de Maradona.
A
decisão, eu estava na terrinha, casa de meus pais. Deu 3 a 2 para a Argentina
em cima da Alemanha Ocidental.
Foi a última Copa que
assisti com interesse e a derradeira que me deixou várias recordações. Dali
para frente, embora mais recentes, as outras me deixaram lembranças esparsas e
escassas. Nem as que ganhamos.
Essa de 86 tem uma
tatuagem: Diego Armando Maradona. Uma atuação inigualável, acho que irrepetível.
Nem Pelé teve tanta importância. Calma! Explico: Pelé é o maior de todos, é
insuperável, mas em 58 e 70, ele foi melhor acompanhado do que o “Pibe”. Pegando o Tri como exemplo: Se o
Rei foi dez, Tostão alcançou nove e Jairzinho, Gérson e Rivellino, oito.
No México, Maradona foi
dez, Valdano e Burruchaga, talvez sete. Quem mais? O
zagueiro Brown? Sei não.
Melhor seria comparar a
sua performance com a de Garrincha no Chile ou Romário na realizada nos Estados
Unidos. Como não vi o “gênio das pernas tortas” em 62 pelo simples fato de ter
tão somente três anos, não tenho parâmetro para “bater o martelo” em qualquer
confrontação de desempenhos.
Já Romário não foi dez;
diria, oito e meio (nada a ver com Fellini). Brincadeira à parte, o Baixinho
arrebentou, porém, não foi bem na decisão contra a Itália.
Além disso, as atuações
de Maradona extrapolaram em magnitude os limites do gramado. Viraram tratado
sociológico. A superioridade inconteste sobre Bélgica e Alemanha Ocidental
representou o triunfo da Colônia sobre as diversas Metrópoles europeias.
E o que dizer da vitória
sobre a Inglaterra, após a guerra travada no sul do continente americano, onde
houve disputa por território? Um gol com a mão e outro, o mais bonito de todas
as Copas: “Só não entrou com bola e tudo, porque teve humildade ...”. Maradona
saiu desfilando desde o campo defensivo, apenas “sossegou”, quando viu o
goleiro batido e a rede balançando.
Por instantes, as Ilhas
Falklands foram verdadeiramente Malvinas. Mesmo simbolicamente, o orgulho
argentino foi recuperado. Maradona, mais do que ninguém, foi o grande arquiteto da conquista inesquecível.
Fonte: Revista Placar
Maradona foi um gênio do futebol.
ResponderExcluirApesar das frequentes comparações, "Dom Diego" foi muito maior do que Messi.
E isso não significa diminuir o gênio do Barcelona de agora.
Pelo contrário. Messi é daquelas criações do futebol que tu ficas olhando e fazes a pergunta: como é que pode jogar tanto?
Entretanto, ganhar Copa do Mundo, levando o time nas costas, não é para muitos.
E Maradona fez isso. Mesmo sem ter grandes companheiros ao lado.
Ótimo o teu relato.
Faço uma distinção entre maior e melhor: Maradona foi infinitamente maior do que Messi, mas La Pulga é melhor; Figueroa foi maior do que Gamarra, mas o paraguaio foi melhor.
ResponderExcluirMoro na Inglaterra, e aqui a unanimidade, entre pessoas que eu conheço e realmente estudam futebol, é de o Maradona ser muito superior ao Pelé. Não é a minha opinião, e meu argumento é: Pelé não ganhou uma copa “sozinho”. Ok, mas Garrincha o fez. E aí, Garrincha é melhor que Maradona então? Óbvio que dentre todos os sofismas, precisaremos trazer os números à discussão: compare número de gols, atuações impecáveis, assistências, consistência na carreira. Não tenho todos os dados, mas Maradona perde do Negão, e de muito. Abs, Caco Vaccaro
ResponderExcluirExatamente como eu penso, Caco.Perde de muito.
ResponderExcluirMas, faço uma observação: Às vezes, todos nós (eu, obviamente incluído) cometemos esse erro de, ao buscar justificativas pelas nossas preferências, reduzimos o possível "opositor" de nossas eleições. É assim em filmes,livros,personalidades e mais ainda no futebol.
Minha opinião: Essa comparação de Maradona com Pelé é irreal pelas suas biografias, mas esse "recorte", isto é, uma Copa do Mundo "só de um", ele é mais visível em Maradona, Garrincha e até Romário (94) do que no Rei. Talvez pela qualidade maior dos "súditos" do mineiro de Três Corações.