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sábado, 2 de fevereiro de 2019

Pequenas Histórias


Pequenas Histórias (210) - Ano - 1971


O Bem-Aventurado Equívoco de Dona Sílvia

Fonte: Revista Placar

1970 foi um ano marcante para o futebol brasileiro, pois em três meses (Março, Abril e Junho), começaram a circular a Revista Placar, a Loteria Esportiva, também, a conquista da Jules Rimet no México.

A Loteca virou febre nacional com os seus 13 jogos semanais; tornou-se a loteria mais cobiçada no país e rendeu várias histórias ao longo de décadas.

Comigo não foi diferente, tenho várias: Aquela que fiz 13 pontos e rendeu apenas o valor de um par de sapatos finos, outra que convenci meus colegas no último ano de colégio a trocar em nosso bolão um duplo em Palmeiras versus XV de Piracicaba para outro confronto, modificação essa que inviabilizou "gabaritar" e botar a mão no prêmio. "Se arrependimento matasse!".

Destas todas, vou destacar uma:

Lá pela metade da década de 70, o meu pai me deu a missão de "tentar a sorte". Como era quinta-feira, último dia da semana para se apostar, a loteria que fazia os jogos fechava à meia-noite. Chamava-se Loterias Maracanã e ficava na Astrogildo quase esquina com a rua do Acampamento, centro de Santa Maria.

Contudo, eu e meu colega de colégio, o amigo Marcelo (falecido em 2007), com esse horário estendido até a zero hora para fazer o joguinho, decidimos ir antes ao cinema para ver um filme muito famoso da década anterior; Fugindo do Inferno com Steve McQueen. Pensamos: Sessão iniciando às 21:00 h, presumivelmente às 23:00 h ela acabaria, portanto, faríamos as apostas na volta.

Acontece que a película era de quase três horas; resultado: Faltando poucos minutos para o final, tristes, tivemos que sair do (Cine) Independência para fazer o jogo, perdendo o desfecho da história, afinal, não dava para dar chance ao azar, além de ganhar uma provável bronca em casa. 

Fui ver o filme completo quase quinze anos depois em fita vhs, lá em Tubarão (SC), onde morei por dois anos.

O Grêmio também foi protagonista de um episódio marcante nos primórdios da nova loteria. 

Logo no teste 38 (24 e 25/04), quando ele cometeu uma grande zebra ao perder para o Flamengo de Caxias do Sul, derrubando quase todas as apostas.

Escrevi "quase", porque uma funcionária dos Correios e Telégrafos da cidade do Rio de Janeiro que servia cafezinho, além de vender empadas e pastéis, moradora do Morro do Estácio e torcedora do Rubro-negro carioca; Dona Sílvia Araújo de Souza (foto acima), faturou os milhões da loteria, pois ao se enganar, achando que o Imortal encarava o seu Flamengo, "cravou" coluna 1 no jogo 9, acertando o resultado improvável; 1 a 0, derrota gremista. 

Largou o emprego e ajeitou a vida dos filhos.

Naquela tarde na Baixada Rubra, o treinador Oto Glória utilizou: Jair; Espinosa, Chiquinho, Di e Everaldo; Jadir  e Gaspar; Flecha (Bira Lopes), Alcindo, Bebeto e Torino.

O Flamengo de Chiquinho usou: Deca; Segatto (Antônio Carlos), Sérgio, Roberto e Paulinho; Zangão, Osmar e Ênio Chaves; Sídnei (Zé Roberto), Jarinha e Darlan. Ficou de fora Iaúca, o "termômetro" do time. 

O primeiro tempo foi sofrível, somente aos 38 minutos a única chance de gol, quando Gaspar cruzou, Sérgio rebateu mal, Flecha aparou o rebote e mandou no ângulo, o goleiro Deca fez excelente defesa.

No início da etapa final, logo aos 8 minutos, o tento isolado da partida; Everaldo perdeu a bola no ataque, Zangão lançou Darlan, justamente na lateral esquerda, onde jogava o craque gremista; cruzou, Osmar pegou mal na bola, porém, ainda com a pelota no ar, Jarinha girou e bateu de forma inapelável, vencendo Jair. 1 a 0.

 Ficou assim, consagrando a zebra e fazendo a fortuna de Dona Sílvia.

Três testes depois, no de número 41, em Maio do mesmo ano (1971), a lavadeira Sebastiana Paulo Dias também confundiu o Flamengo de Varginha (MG) com seu homônimo mais famoso quando este encarou o Atlético Mineiro em Belo Horizonte; marcou empate no jogo 5, acertando os 13 jogos. Santa confusão.
   
Hoje, o Grêmio Esportivo Flamengo virou a SER Caxias, a Baixada Rubra transformou-se no Estádio Centenário e o Imortal Tricolor virou uma grife mundial. 

Jogam neste Domingo.

Fontes: Arquivo pessoal do amigo Alvirubro  
              Revista Placar
              cacellain.com.br
              http://loteria-esportiva.wikidot.com
              https://www.opopular.com.br
              Jornal Correio do Povo
            



  




4 comentários:

  1. Muito bom texto, como sempre, Bruxo!

    Primeiro jogo de Torino e de Chiquinho Pastor no Interior do Rio Grande do Sul.
    Ambos haviam jogado pela primeira vez com a camiseta tricolor, três dias antes, no Olímpico, contra o Ypiranga de Erechim, vitória do Grêmio por 1x0.
    Nesse ano de 1971, o Grêmio teve cinco derrotas no Gauchão. E todas elas para clubes menores, digamos assim.
    Os três clássicos GRENAL tiveram uma vitória gremista e dois empates.
    As cinco derrotas no Gaúcho de 1971 foram para: Esportivo, Cruzeiro, Barroso-São José e duas para o Flamengo de Caxias do Sul.

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  2. Alvirubro
    A memória, às vezes, trai, tenho sempre a lembrança de uma derrota para o Flamengo de Caxias, gol do ponta esquerda Tecchio.
    Não achei nada. Tu sabes se existiu esse jogo?

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  3. Bruxo,
    por incrível que pareça, não tenho nenhuma derrota do Grêmio, atuando contra o velho Flamengo e contra a antiga Associação Caxias, estando Tecchio em campo. Não tenho jogo que ele tenha marcado gol no Grêmio. Pelo menos nas fontes que usei, não há publicação. Fui olhar contra o Internacional, pois a memória realmente nos trai. Também não tenho gol dele.
    Suspeito que na narração de algum gol, tua memória deva ter guardado o nome do atacante, após alguma jogada que resultou em passe dele. Ou até mesmo a finalização da jogada com ele e o gol a seguir, deixando a impressão que o marcador teria sido ele.

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    1. Pois é, li não sei onde. É memória visual. Até vou colocar no google gol de Tecchio.

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