Pequenas Histórias

Pequenas Histórias (211) - Ano - 1979

Orlando "Titio" Fantoni, o Boa-Praça

Fonte:tardesdepacaembu.wordpress.com

Para início de conversa, convém explicar para os mais jovens o que é "Boa-Praça": Pessoa correta, camarada. Hoje, expressão substituída por "Gente Fina"ou "Sangue Bom".

Dito isso, vamos a história; ela se passa em 1979 e tem como principal personagem, o técnico Orlando Fantoni, figura gigantesca do futebol brasileiro, integrante de uma família de boleiros. Era irmão de Ninão (João), Niginho (Leonízio) e primo de Nininho (Otávio), todos os quatro contemporâneos, astros do antigo Palestra Itália, atual Cruzeiro de Minas Gerais e da Lazio da Itália, de onde retornaram devido à ascensão do Fascismo de Mussolini (Imaginem! Mussolini torcia para o arqui-rival, a Roma). Na Europa, eles viraram Fantoni I, Fantoni II, Fantoni III e Fantoni IV.

Como treinador, Orlando Fantoni fez grandes trabalhos no Vasco da Gama, Cruzeiro, Bahia, além de  uma passagem marcante pelo Grêmio em 1979, onde teve a difícil missão de substituir Telê Santana.

Fantoni (foto acima com Manga) era um paizão, ou melhor, o Titio, seu apelido depois que "pegou"uma certa idade, exemplificando: Tinha 62 anos quando comandou o Imortal. Todos gostavam de seu jeito folclórico; conta-se, inclusive, que distribuía os reservas e titulares nos treinos e ficava desatento, proseando com repórteres e jornalistas à beira do campo. Bobagem! O time era bem treinado, ganhou aquele que foi o mais fácil Gauchão dos últimos 50 anos; passeios semelhantes aos que o Tricolor está dando neste começo de ano. Treze pontos no geral, Dez na última fase, as diferenças para o Internacional que ficou em terceiro lugar.

Na fase final de 14 confrontos (ida e volta), meteu 26 gols e sofreu apenas 3. Uma máquina.

Uma passagem do seu altruísmo, de sua benevolência ocorreu em 22 de Abril, quando o Tricolor encarou no Olímpico, o modesto Avenida de Santa Cruz do Sul.

Na véspera da partida, Carlitos, técnico adversário, ex-ponta direita do Inter, dizia que  ser goleado pelo Grêmio não seria um resultado anormal, mas sonhava com um empate. Também  na véspera, o zagueiro Cassiá se dizia incomodado com a reserva e pedia junto ao treinador, uma chance para atuar. A concorrência era brutal para o são-borjense, havia Ancheta, Vantuir e Vicente.

Fantoni naquela tarde começou com: Manga; Eurico, Vantuir, Vicente e Ladinho; Victor Hugo, Nardela e Paulo César Caju; Tarciso, André e Éder. 

Carlitos mandou a campo: Serginho; Alceu, Zé Carlos, Paulo Aquino e Paulo Schmidt; Sarará, Adair e Carlos; Marquinhos, Gilberto e Telmo. Ainda participaram Jaime, saindo Gilberto e Norberto no lugar de Telmo.

O intuito do treinador Carlitos ruiu por terra já na etapa inicial: Aos 4 minutos, Ladinho passa para Éder que abre o marcador; aos 15, Éder bate escanteio e Vantuir amplia. Aos 19, Paulo César Lima, o Caju, executou bela cobrança de falta (não percam a conta: 3 a 0). 

Aos 27 minutos, Éder cobra novo escanteio e o centroavante André Catimba marca o quarto. Aos 40, mais um escanteio, André erra a cabeçada, mas Tarciso aproveita e realiza o quinto tento.

Aos 44 minutos, Paulo César Caju é derrubado na área, penalidade máxima; André fecha o primeiro tempo: 6 a 0.

Aí entra o lado cavalheiresco de Orlando Fantoni; faz entrar Cassiá, atendendo a solicitação do zagueiro (saiu Vantuir), também fez ingressar Jésum, saindo André, machucado, Tarciso vai para o miolo do ataque.

Não ficou nisso o lado gentil do treinador; ele pediu para o time não tentar o tradicional "olé", nem marcar mais gols (discutível essa orientação, não acham?), afinal, os atletas do Avenida eram trabalhadores que se reuniam apenas à noite para treinar e o agravante: Vários titulares ficaram em Santa Cruz do Sul.

Sendo assim, o placar foi movimentado apenas uma vez, lá pelos 40 da etapa final; Eurico cruzou da direita e Paulo César Caju deu "cifras definitivas"ao marcador. 7 a 0.

Bueno! Depois de três Pequenas Histórias em que o Imortal não saiu vencedor (Encantado, Juventude e Flamengo de Caxias), é muito bom relembrar uma goleada histórica num  campeonato, onde, além de ser campeão, ele bateu com sobras o seu tradicional rival e perdeu apenas uma partida, um 0 a 1 no Olímpico diante do Juventude, gol do santamariense Plein (pronuncia-se Pláin) numa das fases intermediárias da competição.

Fonte:  Jornal Correio do Povo
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