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quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Pequenas Histórias

Pequenas Histórias (243) - Ano - 1960-2020

A Morte de um Gênio

Fonte: tweetergremioportoalegrense

 Diego Maradona partiu nesta Quarta-feira. Havia completado 60 anos em Outubro. O coração não resistiu.

Tive a sorte de ver toda a sua carreira, sua genialidade e o admirava muito, não tanto quanto admiro Pelé, pois o Rei soube entender melhor a condição de Ídolo. Ficou naquele espaço entre Deuses e Humanos, já Maradona era cheio de “imperfeições”, por outro lado, isso o aproximou do estágio normal dos seres humanos “comuns”. Era mais real, mais “verossímil” aos olhos da gente. Seus escorregões frequentes não afetavam minha admiração por tudo que representava no futebol. Exemplificando: na recuperação da auto estima argentina, depois dos eventos Guerra das Malvinas e Copa do Mundo de 1986, aquela que era para ser na Colômbia e acabou sendo realizada no México. Aquela do Gol com a Mão, aquela do mais belo tento de todas as Copas do Mundo. Jogo que assisti na casa de meus primos, quando morava em Porto Alegre, logo depois do almoço que me proporcionaram.

É uma das muitas lembranças que tenho de Maradona, outra, a de sua passagem pelo Olímpico Monumental em 1980, atuando pelo Argentinos Juniors, vide El Pibe no Olímpico.

Há várias, mas a mais carinhosa e singela ocorreu em 1979, período que cursava a faculdade e a Universidade Federal possuía muitos alunos estrangeiros.

Naquele ano ocorreu a Revolução Sandinista na Nicarágua e eu tinha dois colegas de lá; Carlos Dennis e Simeon, este último, não voltou mais. Tornou-se cidadão brasileiro.

A situação estava dramática especialmente para Carlos que não conseguia nenhuma informação de seus familiares. Convém lembrar que não havia celular, nem internet naquela época.

O dinheiro que recebia de lá, sumiu. Ele estava vivendo da caridade de seus colegas. Escrevia e vendia livros de poesias (tenho até hoje um deles). Ele era só tristeza e nervosismo. Mesmo angustiado, teve que tocar a vida.

Uma tarde, os convidei para fazer o trabalho de aula lá em casa e após um café, meu pai ligou a televisão naquela peça que chamávamos de sala de tevê e, nós, da cozinha numa espécie de intervalo do trabalho de aula, vimos que estava começando um jogo da Argentina (acho que era Copa América) e meus colegas ao verem Maradona no time, simplesmente, esqueceram da tarefa acadêmica e foram assistir a partida, ou melhor, foram ver Maradona. Comprovei que El Pibe era mais próximo dos hermanos da América Central do que Pelé.

Vi Carlos recuperar o ânimo e recordo que naqueles “90 minutos”, conseguiu esquecer a tragédia pessoal que vivia.  Era visível o seu entusiasmo, torcendo para a Argentina. O encantamento que a figura de Maradona lhe produzia era indescritível. 

Naquela tarde, presenciei mais uma prova da magia do futebol; ele é capaz  de nos proporcionar lembranças magníficas, reservar momentos eternos em nossas vidas.

Maradona, pelo menos para mim, foi autor de vários deles.

Obrigado, Don Diego!

PS: Tive que fazer alterações no texto, depois de publicado, porque me emocionei ao recordar o sufoco daqueles tempos e ele saiu com  muitas falhas.

 

 

 

10 comentários:

  1. Belo teu texto e tuas descrições, Bruxo!
    Enquanto li, com atenção, cada linha escrita, fui lembrando de detalhes e da "televisão naquela peça que chamávamos de sala de tevê".
    Lembrei-me de teus queridos pais, que tão bem nos acolhiam, quando íamos todos, passar as tardes de sábado ou de domingo, para os inesquecíveis jogos de botão.
    Bons tempos, aqueles!
    Ao ver a foto de Maradona, com a camiseta do Grêmio, lembrei-me de outro fato que liga o genial jogador ao futebol gaúcho.

    Dia 24.08.1982, num Camp Nou, recém ampliado, com mais de 100 mil torcedores, para ver Diego Maradona na estreia, lá estava como adversário o Internacional, de Porto Alegre.
    A marcá-lo, Beretta. Um 0x0, nos 90 minutos, que levou a disputa para os pênaltis, com um 4x1 para o Colorado. O único gol de pênalti do Barcelona, foi de Maradona. Na final do Torneio, em 25.08.1982, o Internacional acabou vencendo o Juan Gamper, num 3x1 contra o Manchester City.
    Maradona foi um fenômeno, como poucos. E fez parte da nossa história futebolística. Foi bom ter visto Maradona jogar.

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  2. Muito obrigado, Alvirubro. O que assusta é a velocidade com que a vida passa.
    Lembro de uma frase do grande Chico Anysio com a relação à morte:" a minha tristeza não é pelo o que pode vir após a morte, mas é por deixar as coisas boas desta vida ".

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  3. LUIS ALBERTO BERTHIER GUEDES25/11/2020, 21:13

    Caro Bruxo, com todos os seus problemas o enorme Maradona nunca deixaria de reconhecer uma filha como o fez o "maravilhoso" Pelé.

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  4. Joao Hollerbach26/11/2020, 09:46

    No campo de futebol ambos, Pelé e Maradona, foram mestres. Entretanto fora das 4 linhas, mesmo com seus problemas pessoais, Maradona foi maior. Pelé, infelizmente, tornou-se um "filhote da Ditadura", expressão cunhada por Brizola.

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  5. Joao Hollerbach26/11/2020, 09:48

    E apenas para recordar: ah, aqueles tempos de futebol de mesa(botão)!!! Que momentos agradáveis e inesquecíveis tivemos!

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  6. Verdade. Estão sempre na minha memória, João. Também os nossos voley e basquete.

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  7. Bela história e homenagem ao Dieguito, Bruxo!
    Que vá em paz e descanse o eterno Maradona! Um gênio que foi ao mesmo tempo um Deus imparável nos gramados e tão humano fora deles!
    Pelé foi o maior em campo mas fora dele o Dieguito foi gigante. Aliás quem já foi pra Argentina sabe como é lá, o Don Diego tá presente em todos os lugares, a devoção a sua figura é quase religiosa. Ano passado eu estava em Buenos Aires bem na época em que ele foi anunciado como treinador do Gimnasia y Esgrima e o pessoal lá estava em êxtase ao ver o Pibe voltando a casamata. Mesmo no auge da crise por lá com protestos todos os dias parece que pararam tudo por um tempo pra reverenciar seu ídolo máximo, só se falava no Maradona.
    Fazem falta jogadores como ele, principalmente na postura politica. E se foi no mesmo dia da morte do seu amigo Fidel Castro. Hasta la victoria siempre Don Diego!
    Lá em Nápoles já começaram a mexer os pauzinhos pra mudar o nome do estádio em sua homenagem.

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  8. Justa homenagem em Nápoles. Ele botou o sul da Itália no mapa futebolístico.

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  9. Ao meu ver Pelé foi maior que Maradona em campo e fora dele, se o Rei cometeu a falha de não reconhecer uma filha Diego cometeu muitos outros como doping, drogas, agressões a mulher, tiro em jornalistas e etc.
    O que fica é o enorme talento, o poder de indignação e o carisma inigualável.
    Eterno Maradona

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  10. Carlos: o Maradona também não reconheceu um filho, que nasceu logo após a Copa de 86. Pra mim, esta fraqueza é maior que os vícios.

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