O Sexto Título que não
veio
Por força dos horários dos jogos que colidiram com o do meu trabalho;
assisti a Copa esparsamente, salvo uma ou outra partida completa. Ainda assim, por força
da leitura, análises posteriores e vídeos, posso dizer que tenho condições de
comentar os principais fatos ocorridos na Copa da Rússia.
Conclusão minha, sujeita a chuvas e trovoadas: O Brasil na teoria é superior a quase todas as Seleções, diria que ela (a Seleção) mais uma vez perdeu para si própria. Parece uma afirmação despropositada; principalmente se a comparação for com as finalistas, mas eu vejo um superdimensionamento de determinados jogadores das demais Seleções; nós temos na maioria das posições, elenco mais qualificado.
O caso, a crise, o nó, foi não ter feito a ponte entre
a teoria e o futebol praticado nos gramados da Rússia. E isso encontra
similaridade em 66 na Inglaterra, 78 na Argentina, 90 na Itália, 06 na Alemanha
e 14 no Brasil. Em todas essas edições, existem
erros estupendos nos selecionados brasileiros que inviabilizaram, pelo menos,
“dando um desconto”, mais dois títulos.
O despreparo de todos os setores da Seleção (dentro e fora das quatro linhas) para lidar com situações idênticas, vividas pelas concorrentes, me
parece o maior obstáculo; exemplificando: Os contratos, os compromissos que
Neymar possui não são maiores ou mais pesados dos que possuem Messi e Cristiano
Ronaldo; esta dupla não foi bem, porque nas parcerias argentina e portuguesa,
eles não encontraram ressonância para suas jogadas.
O camisa 10 do Brasil
afundou individualmente, sucumbiu a excessiva exposição; dentre as causas do
seu fracasso, a companhia dentro dos gramados tem baixa relevância; ninguém o
atrapalhou diretamente. Talvez, ele não tenha encontrado o ponto de equilíbrio
entre o principal (o futebol) e o acessório (os ganhos decorrentes dele). O
acessório virou o principal, aí, a galinha dos ovos de ouro (seu futebol)
adoece.
As escolhas de Tite e sua irrestrita confiança em certos nomes
discutíveis, casos de Fernandinho, Paulinho, Willian e até a insistência com
Gabriel Jesus em má fase ou mal aproveitado, aliada a má formação do elenco
(Taison, Danilo e Fred), terminaram por erguer o muro de dificuldades que o
Brasil encontrou diante da Suíça, Costa Rica e Bélgica, restando vitórias
medianas contra a fraca Sérvia e o freguês em Copas do Mundo, o México.
A mídia, aquela hegemônica por força de sua exclusividade na cobertura,
tem imensa importância nesta derrocada (e nas anteriores), porque cria um
ambiente de oba-oba tão pertinente aos seus interesses comerciais, no entanto, impacta na mesma dimensão; é tão prejudicial ao que se espera e deseja dentro
de campo. Viu-se que há até contrato limitando ou proibindo criticar
determinados atletas. Um absurdo antiético.
Resumindo: Com a “mão-de-obra” abundante brasileira e um técnico, em
tese, capacitado para comandar o elenco, o Hexa ficou mais distante por
avaliações equivocadas, quase sempre, as mesmas do passado.
Ah! E a França que não
tem nada com isso, botou a mão no caneco com a maior justiça e, lógico,
competência.
Ótima análise, Bruxo. Só não colocaria a seleção brasileira com um elenco melhor que as outras, mas sim do mesmo nível de França, Alemanha e Espanha.
ResponderExcluirA Copa acabou ficando estranha por algumas circunstâncias. Primeiro, a não classificação da Itália (e também da própria Holanda, que tem feito boas campanhas nas últimas edições). Segundo, pelos desempenhos sofríveis de Alemanha, Espanha e Argentina (é natural que uma ou duas grandes seleções passem vexame, mas três foi um ponto fora da curva). Terceiro, pela forma como ficou o chaveamento, até em razão das circunstâncias anteriores: de um lado, só havia uma seleção com elenco qualificado, a Espanha, que acabou perdendo miseravelmente para a Rússia. Depois, tinha a Croácia, Inglaterra e Colômbia como seleções de terceiro nível. No outro lado da chave, sobraram duas potências (França e Brasil) e duas seleções de segundo nível (Bélgica e Uruguai), além de uma seleção tradicional mas completamente desestruturada (Argentina).
Isso acabou produzindo uma final completamente desequilibrada. França e Croácia parecia time da capital contra time do interior. A Croácia até foi bem no primeiro tempo, mas a França sem fazer esforço nenhum acabou loguinho com o jogo (e o goleirico croata aceitou tudo). Dizem que a Croácia estava cansada, é verdade. Mas se cansou porque conseguiu a façanha de ir para a prorrogação (e pênaltis) contra as varzeanas Dinamarca e Rússia, além da fraca Inglaterra. O que isso diz da Croácia? Se cansou também porque não tem elenco, não tem mais ninguém fora cinco ou seis bons jogadores do time titular. O que isso diz da Croácia? Diz o que todos sabíamos: se trata de uma seleção de terceira linha do futebol mundial, que por força das circunstâncias conseguiu chegar à final nesta.
Já a França considero que tem ótimos jogadores. A dupla de zaga, Kanté, Pogba, Griezmann e Mbappé jogam muito. Os outros também são bons, apesar de coadjuvantes. Em nenhum momento precisou usar o banco para mudar um jogo, mas acho que teria alternativas. Usou um sistema seguro, defensivo e apostando no contra-ataque, bem adequado para uma Copa. Me lembrou, em parte, do próprio Brasil em 94 e 2002. Força e consistência defensiva e bola para os craques (Romário; Rivaldo e Ronaldos) resolverem na frente.
E sobre o Brasil concordo 100% com tua avaliação. Tinha jogadores tão bons como a França. Ótima dupla de zaga, lateral esquerdo extremamente habilidoso, um excelente primeiro volante e ótimos atacantes em profusão (Neymar, Coutinho, Firmino, William, Douglas Costa). Teve problemas pela preparação psicológica (acho que perdeu para a Bélgica por ter ficado em pane ao tomar o primeiro gol) e também por erros graves do Tite na formação do elenco e na escalação. Tinha que ter percebido que Fagner não era suficiente, que Paulinho, William e Jesus estavam mal etc. Os times que avançaram e apresentaram bom futebol fizeram mudanças ao longo da competição (França, Bélgica, Uruguai). Tite foi teimoso e medroso, acabou pagando por isso.
Antônio R.
Muito bom, Antonio.
ResponderExcluirAté gostaria de pontuar parágrafo por parágrafo, tão interessante o teu comentário. Neste momento, estou envolvido com um projeto aqui em casa, mas assim que der, volto a apreciar suas colocações.
Uma deixo de cara; a preparação psicológica brasileira, veja que a Croácia conseguiu à exceção da final, superar a adversidade de sair atrás no marcador, algo que os Canarinhos não conseguiram.
Antonio
ResponderExcluira) A Espanha já afundara na edição brasileira. Pelo histórico dá para dizer que 2010 foi exceção
b)Croácia apresentou 3 ou 4 muito bons jogadores e um conjunto excelente; as prorrogações devem ter causado todo aquele cansaço diante da França, não a classificaria (pelo desempenho, não o histórico) como de terceira linha
c) O fato de trocar pouco os 11, ajudou bastante os franceses.
d) Tite foi "conservador";concordo contigo
É verdade, Bruxo. Acho que a Espanha se prejudicou por falta de comando e variação de jogo. Vai ter dificuldade na renovação, sem Iniesta, David Silva, Diego Costa, Sergio Ramos...
ExcluirEu digo que Croácia é terceira linha sem demérito, apenas por uma combinação de histórico, elenco e desempenho. Em histórico teve aquele terceiro lugar em 98 e depois mais nada, acho até que nem avançou às eliminatórias. Em termos de elencos, são 5 ou 6 bons jogadores no time titular e suspeito que os reservas são muito fracos (pois o treinador preferiu não usá-los mesmo com todo o desgaste). E pelo desempenho, também não gostei muito. Com exceção do jogo contra a Argentina e alguns momentos contra a Inglaterra, o que vi foi um time de pouca qualidade. Insisto, ir uma vez à prorrogação contra adversário ruim pode acontecer, é acidente. Mas ir duas vezes (Dinamarca e Rússia) já é sinal de problema. Depois, ter ido mais uma vez contra um adversário inferior (Inglaterra)... Então, Croácia, pensando em termos de desempenho, elenco e tradição, nesta Copa, estava abaixo de França, Brasil, Alemanha, Espanha, Uruguai, Argentina, talvez até Portugal. Mesmo nível de Inglaterra e Colombia.
Antônio R.
Entendi. Sob este aspecto, realmente, não dá para colocar a Croácia no mesmo patamar das históricas Argentina e Alemanha, por exemplo.
ExcluirResta saber como se comportará daqui para frente.
Muito boa a análise, Bruxo. Penso que na Seleção faltou uma liderança no meio campo, nem que fosse para grupo, que tivesse a capacidade de dar ritmo e cadência ao jogo. Senti falta de alguém que pudesse fazer inversões, fazer trocas de passe laterais que pudessem abrir espaços. Um dos problemas que eu senti foi uma certa insistência na verticalidade, que na minha opinião colocou pressão nos atacantes para que decidissem na jogada individual. Não vou repetir que faltou alguém como o Arthur ou mesmo o Luan, mais à frente, para dar estas características - um Mazinho de 1994, ou um Valdo, já me serviriam (apesar de serem jogadores diferentes entre si).
ResponderExcluirCom certeza, Caco. Faltou essa liderança.
ResponderExcluirAlguém poderá dizer que na França não havia isso; mas a liderança técnica exercida por Griezmann que se adonou da partida final, demonstra que não é apenas a anímica que resolve.